BD - 5 melhores 2009
Evito tops. Top 5, top 10, top 40 ou top 100.
Mas em resposta a uma solicitação externa, acabei por ter de pensar um bocadinho na minha selecção pessoal dos 5 melhores livros de BD de 2009.
Posto isto... e valendo o que vale, aqui vai:
1. The Photographer (Into war-torn Afghanistan with Doctors Without Borders)
Guibert | Lefèvre | Lemercier
(First Second)
The Photographer (a edição original, Le Photographe, é de 2003) surge indiscutivelmente no topo desta lista como o melhor livro de BD que tive oportunidade de ler, em 2009. Na realidade não é um livro de BD, mas antes uma novela gráfica, construída a partir de algumas das 4000 fotos de Didier Lefèvre, tiradas durante a sua incursão no Afeganistão ocupado pela U.R.S.S., em 1986, acompanhando uma missão dos Médicos Sem Fronteiras. Foram necessários treze anos para que, a partir das notas e memórias de Lefèvre, e com recurso à arte do seu bom amigo Guibert, ambos reconstruíssem e tornassem públicos os acontecimentos desses cerca de 4 meses em território afegão, que quase custaram a vida do fotógrafo. É uma história poderosíssima e tocante, que a inocência, desprendimento e entrega de Lefèvre tornam ainda mais fascinante. É além disso um documento precioso para a compreensão do trabalho dos MSF, da cultura e vivência do povo afegão e uma visão única e genuína daquela região do globo, que traz alguma luz à envolvência histórica que faz com que, ainda hoje, este seja um dos locais do mundo mais inacessíveis, violentos e perigosos.
2. Stitches, a memoir
David Small
(W. W. Norton & Company)
Quando acabei de ler Stitches não hesitei em colocá-lo na prateleira que reservo aos clássicos, cá em casa, Will Eisner, Art Spiegelman, Alan Moore, Hugo Pratt e por aí fora... É literatura gráfica, no seu melhor. As memórias autobiográficas de David Small, da sua peculiar, problemática e por vezes cruel família e da história kafkiana(?) de um rapazinho que após uma operação supostamente rotineira se vê privado da voz. Uma viagem à infância do artista, ao mundo dos anos 50 e ao dilema da criança que se depara com um drama traumático. Simultaneamente inocente e crítico, em Stitches a mudez serve também como pretexto para quadros e pranchas inteiras de narrativa gráfica genial, na minha opinião. Uma expressividade e fluidez que comparo, sem preconceitos, à de Eisner. Incontornável!!!
3. Berlin - City of Smoke
Jason Lutes
(Drawn & Quarterly)
City of Smoke é o segundo (e penúltimo) volume deste relato romanceado de Berlim entre as grandes guerras. As conturbações sociais e políticas da capital alemã entre 1927 e 1930 (a a tensão crescente entre comunistas e nacional-socialistas, a marginalização dos judeus, mas também o despontar do jazz e da vida nocturna cosmopolita) surgem como elementos quotidianos dos personagens de Berlin, que o autor constrói com uma profundidade e realismo só à disposição dos grandes da narrativa. É um épico histórico que se lê como um bom romance, de um só fôlego, com a vantagem de contar com a abordagem gráfica excepcional de Lutes.
4. A Metrópole Féerica (Terra Icógnita, Vol. I)
José Carlos Fernandes | Luís Henriques
(Tinta da China)
A edição deste ano do FIBDA (Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora) distinguiu A Metrópole Feérica como o melhor álbum português. Para quem conhece o trabalho destes dois autores (que já haviam colaborado em Black Box Stories 1) não é uma notícia surpreendente. Depois de ler o livro, tornam-se óbvias as razões para tal distinção. José Carlos Fernandes é dos mais prolíficos criadores de BD nacionais e o fio condutor do seu imaginário são farpas de crítica social daquelas que nos fazem sangrar profusamente, porque nos reflectimos nelas com facilidade (ainda que dificilmente com conforto). Em Luís Henriques parece ter encontrado alguém à altura do desafio de, artisticamente, dar corpo aos universos paralelos que vai criando. Seis estéticas diferentes, para outras tantas histórias que compõem A Metrópole Feérica evidenciam a capacidade técnica de Luís Henriques e fazem deste álbum um dos meus preferidos de 2009.
5. 100 Bullets - WILT (TPB #13)
Brian Azzarello | Eduardo Risso
(Vertigo | DC Comics)
Com a compilação dos comics 89 a 100 desta série termina um dos mais fascinantes trabalhos de ficção policial (falta-me melhor termo), que li nos últimos tempos. Colocar o #13 nesta lista do que considero os melhores de 2009 é só uma desculpa para relembrar os restantes álbuns. Este título, apesar de constar do catálogo de uma das editoras mais mainstream do mercado da banda desenhada é óbrigatório para quem, como eu, não resiste a uma boa história de policial negro, com um toque de espionagem e violência q.b., ao estilo Tarantino. Veja-se a premissa de 100 Bullets -- a possibilidade de vingança, sem punição, que surge sob a forma de um estranho que oferece uma mala em cujo interior estão: uma arma, 100 balas que uma vez disparadas não serão identificáveis nem alvo de investigação policial, além de documentação que identifica, localiza e prova o envolvimento do alvo da vingança num evento traumático para o potencial futuro detentor da mala. Como recusar uma oferta destas? Este é apenas o pretexto para uma trama de proporções gigantescas envolvendo o sub-mundo do crime e grandes corporações, com surpresas suficientes pelo caminho para tornar a leitura compulsiva. Um argumento de primeira de Brian Azzarelo e arte completamente viciante de Eduardo Risso.
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