04 setembro 2008

o tecido do outono

«É engraçado: os homens, cada um à sua medida, tinham o poder e, tirando os padres nos púlpitos, não era bonito falarem de amor. Lembro-me do tempo em que era uma vergonha um homem falar de amor em público. Tinham conversas reservadas com putas sobre o mal que sofriam lá em casa e, se fosse preciso, depois batiam-lhes. Ainda há muito disso. As pessoas batem-se por tudo e por nada e, normalmente, quem não foi treinado para desenvolver a sua alma, só lhe resta a violência e a astúcia como meio de comunicação com os outros. Em relação a esses, não há nada a fazer. É esperar que eles morram e vão nascendo outros melhores. Mas quem comanda tudo nem são bem as pessoas: são os seus hábitos, os seus costumes, o que ouviram dizer aos que dizem que sabem a verdade: é sobretudo o espírito do tempo. As pessoas só são responsáveis por não serem capazes de ver logo que isso é uma aberração.»

excerto do capítulo VI, "O Tecido do Outono", António Alçada Baptista

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